Para quem achamos que sabemos de tudo.

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quarta-feira, 13 de julho de 2011

Ser ou parecer? Eis a questão.

Nos dias de hoje, quem se atreve a definir o que é imagem e que papel ela representa para as pessoas que vivem delas e nelas?

Desde o final do século XIX, exatamente no ano de 1895, nasceu na França o Cinema, criado pelos irmãos Lumière Louis e Auguste, e desde então a imagem disseminada em massa para nossa sociedade passou a apresentar diversos significados e desempenhar um papel praticamente central e prioritário sobre a escrita. Não que essa última tenha ao longo do tempo perdido sua importância, pelo contrário, a imagem estática ou em movimento que passou a estabelecer sua supremacia. Nada contra aos pouco ou não letrados, porém, em minha humilde visão, são esses os que se mostram mais fascinados com a magia que a imagem lhes proporciona.

O que dizer da TV, que segundo diversas teorias da comunicação de apocalípticos e integrados, passa de vilã a heroína em diferentes, porém não tão distantes, momentos da história recentes das civilizações.

Passamos dos filmes mudos as produções audiovisuais. Das radionovelas as telenovelas, dos programas musicais de rádio (Os calouros do Ary - comandado por Ary Barroso) aos programas de autitório (Programa do Chacrinha, Programa Silvio Santos, Raul Gil, etc), do Reporter Esso ao Jornal Nacional, enfim, todas as mudanças e transformações de significados e signos nos processos de comunicação (ou troca de mensagens) entre públicos diferentes. Dos que sabem ou viram para os que NÃO SABEM e principalmente, NÃO VIRAM.

Porém nada disso seria possível se não contássemos com a evolução da tão ovacionada tecnologia, que permitiu ao homem modificar e lapidar suas diversas formas de comunicação.

Assim se fez com a internet, criada inicialmente para auxiliar em estratégias de guerra, hoje em dia serve como vitrine para pessoas que não sabem se comunicar verbalmente e visualmente (presencialmente). Nela é tudo mais fácil, tudo mais feliz, tudo mais perfeito. Tudo um arraso! Claro que com a ajuda das vedetes do momento: As redes sociais.

Longe do objetivo desse texto, a análise tecnica e filosófica dessas redes ficará por conta dos teóricos tradicionais como McLuhan e "especialistas" no assunto, que se depararam com o choque tecnológico provocado pela velocidade de transporte de informações e a instantaneidade da WWW(world wide web).

Voltando aos conceitos de imagem, retirei trechos da definição da Wikipédia:

"Imagem (do latim: imago) significa a representação visual de um objecto."

"Em grego antigo corresponde ao termo eidos, raiz etimológica do termo idea ou eidea, cujo conceito foi desenvolvido por Platão. À teoria de Platão, o idealismo, considerava a ideia (ou idéia) da coisa, a sua imagem, como sendo uma projecção da mente. Aristóteles, pelo contrário, considerava a imagem como sendo uma aquisição pelos sentidos, a representação mental de um objecto / objeto real, fundando a teoria do realismo. A controvérsia estava lançada e chegaria aos nosso dias, mantendo-se viva em praticamente todos os domínios do conhecimento."

Sendo assim, se aplicamos o termo ao âmbito do uso pessoal das redes sociais, vou me direcionar ao conceito de imagem defendito por Platão: "uma projeção da mente".

Acredito que as redes sociais não são as responsáveis pela forma como as pessoas as utilizam, elas por enquanto, estão apenas servindo como um novo suporte para um antigo hábito social: "A indispensável preocupação com a IMAGEM".

O que importa não é ser, é parecer ser. Sou pobre, mas tenho que parecer rico. Sou feio, mas tenho que parecer bonito, sou ignorante, mas tenho que parecer sábio, sou pouco estudado, mas tenho que parecer inteligente, sou mal amada, mas tenho que parecer uma diva, tenho poucos amigos, mas tenho que parecer popular. Não tenho assunto interessante a dizer, mas tenho que falar da minha unha encravada, do bolo de chocolate que to fazendo, da unha que acabei de pintar, da mulher que acabei de pegar, da night que foi maravilhosa, dos gatinhos e gatinhas que me deram mole, do quanto fiquei bêbado e hoje acordei com dor de cabeça e ressaca, em suma, o fútil que a muitos interessa dizer e saber uns dos outros. É exatamente isso que dá audiência, gera vários comentários e cliques no botão "Curtir".

Mas qual o problema em se sociabilizar através das redes socias, afinal, não foi pra isso que elas foram criadas? Obviamente sim!

O problema está na infantilização de mulheres e homens ao acreditarem que serão mais felizes ao mostrar pro coleguinha que viajou, que saiu à noite, que bebeu muito até cair, que arrasou com a amiga, que tem muito dinheiro, que tem muitos amigos e que no final das contas anda se lamentando pelos cantos do quanto suas vidas são infelizes. Essa imagem criada tomou o papel principal da verdadeira imagem. Mas aí também encontramos um problema. Toda imagem não é criada? O que seria a imagem verdadeira?

A imagem criada afeta negativamente tanto aos seus criadores - pois mascaram para si sua real situação - quanto para as pessoas que acreditam que aquela é a verdadeira imagem do outro. Isso faz com que um indivíduo com hábitos "normais" e relativamente "feliz" passe a se sentir "infeliz" por projetar sua satisfação no que os outros ditam como tal.

Tudo em nome da imagem, seja ela projetada (idealizada) ou verdadeira (concreta e objetiva). Não me atrevo a definir qual seria a verdadeira, mas seguramente é fácil notar quando existe projeção em determinados conteúdos disseminados, principalmente quando você está próximo a realidade de quem os emite.

Outro ponto importante a ser frisado é a não pretenção de que as redes socias sejam o cenário primário para que um mostre o que realmente é, sendo que nem a vida "real" em sociedade existe um critério fundamental isso, porém, ninguém disse que elas deveriam ser utilizadas como recurso de mascaramento do "próprio eu" e servirem como diretrizes de grande influência na vida real das pessoas.

E você, que tipo de imagem anda criando ou projetando dentro e fora das redes sociais? Até que ponto isso é essencial ou influencia em seu cotidiano? Já pensou nisso?

terça-feira, 29 de março de 2011

Funk, uma lição de marketing

Cliente: - Oi, Boa tarde
Atendente: - Boa tarde! Tudo bem?
Cliente: - Tudo sim! Deixa eu te perguntar. Quanto custa a limpeza de pele?
Atendente: -Tá trinta reais.
Cliente: - Hun, outra informação, quanto tá pra fazer as unhas?
Atendente: - Pé e mão está vinte reais.
Cliente: -Você tem hora agora, ou tenho que marcar pra voltar depois
Atendente: -Qual o seu nome? 
Cliente: - Fulana.
Atendente: - Fulana, aguarda só um minutinho. Mônica, você já tá terminando? (Com a voz levemente aumentada)
                  Você aguarda só um minutinho Fulana?
Cliente: -Espero sim, obrigada.

Um minuto depois...

Atendente: -Olha, essa é a Mônica. Mônica, éssa é a Fulana. Fulana, é só acompanhá-la que ela vai fazer suas unha, ok?
Cliente: -Ok, obrigada
Atendente: -De nada. Até daqui a pouco.
Mônica: - Oi Fulana, tudo bem? Você quer água, café, chá, suco, biscoito? Quer alguma coisa?
Cliente: - Água eu aceito, obrigada.

Em menos de uma hora a cliente saiu do salão com as unhas feitas e satisfeita. Parece uma história boba e óbvia não?

Seria se a mesma cliente já não tivesse passado em outro salão bem perto e perguntado o preço do mesmo serviço, que no caso era cinco reais mais barato. Seria menos ainda se a primeira pergunta não houvesse sido pelo preço da limpeza de pele. Porém mediante o ambiente, o atendimento e a SURPRESA ela optou por ficar e consumir um serviço tão básico para a maioria das mulheres e que a maioria também das atendentes e funcionárias de salões do subúrbio costumam tratar como commodity. Raríssimas são as excessões.

Ao passar pelo primeiro salão, a cliente se deparou com uma atendente que estava ao telefone conversando com alguém de seu ciclo pessoal e ao interromper seu diálogo com este, se voltou para Fulana e apresentou uma postura de "nosso salão irá fazer um favor em atendê-la". De que maneira? Ao apresentar todos os empecilhos possíveis caso a cliente não ficasse sentada esperando por horas a sua vez na fila de espera que estava enorme. O tempo era restrito, pois depois de uma determinada hora não agendavam mais. Depois de outra as profissionais só fariam o pé ou a mão, pois o salão fecharia na hora seguinte.

Onde está a diferença entre os estabelecimentos?

Realmente há necessidade de resposta?

Longe de fazer uma propaganda gratuita, meu objetivo com o relato desse acontecimento é mostrar como é fácil e ao mesmo tempo quase impossível fazer um atendimento de qualidade, gerar resultados financeiros e valorização da marca através de um serviço de boa qualidade, e principalmente sem DISCRIMINAÇÃO.

As mulheres da classe média ou da classe C são as responsáveis pelo consumo da maioria dos produtos de beleza e higiene pessoal no Brasil, segundo levantamento realizado pelo Instituto Data Popular, empresa que realiza estudos de mercados sobre o comportamento das classes mais populares do Brasil. Em 2003, de cada 100 mulheres que compraram cremes 43 eram da classe C, já em 2010 esse número cresceu para 53. Além disso, são as jovens da classe C que mais gastam com roupas, acessórios, produtos e serviços de beleza no país.

Uma vez garantido um emprego, mais renda disponível o consumidor terá para gastar ou investir no que acredita ser necessário para si ou no mínimo importante. E para os desinformados e cegos mercadológicos crônicos, para a classe C os gastos com beleza e vestimentas são INVESTIMENTO, bem longe de ser algo supérfluo.

Mas o que isso tudo tem a ver até agora com o título desse post? Vamos analisar?

O salão em questão é o N07, localizado em Madureira, na Zona Norte do Rio de Janeiro. Muitos estão se perguntando: Mas que salão é esse? Pertence a Priscila Nocetti, rainha do Funk carioca e atual senhora do grande empresário funkeiro Rômulo Costa. O depoimento da manicure e pedicure Mônica sobre as clientes que entram no salão é de que ninguém esperava que os preços dos serviços fossem baixos pelo ambiente e pela qualidade do atendimento e serviço do local. Está aí a tão importante relação de SURPRESA entre a empresa (marca) e o capital mais importante: o cliente.

Que grandes críticos, graduados, pós-graduados, especialistas ou grupos preconceituosos e tradicionalistas do mercado diriam ao analisar esse case, antes mesmo de levar em conta uma experiência parecida? Será que a explicação está no fato de que as pessoas que "vivem na realidade do funk", um estilo musical (e de vida) direcionado e originário das classe mais baixas saberia entender melhor as necessidades de quem consome produtos, serviços e cultura do nicho? Sim e não.

Sim, porque uma vez que um profissional ou qualquer indivíduo está inserido em um ambiente, estarão a sua disposição inúmeras informações que posteriormente serão recolhidas e processadas através de sua experiência (talvez), conhecimento técnico (na maioria das vezes), bom senso (quase nunca) e o principal, o que pretendo chamar de "flexibilidade e permeabilidade da mente" (Praticamente nunca). Isso não é condicional aos profissionais mais antigos no mercado. Todos os anos as instituições de ensino superior formam profissionais que cometem erros que eram para ser "aceitáveis" caso essas mesmas pessoas houvessem nascido junto com a TV. Como uma empresa formada por diretores, gerentes, coordenadores outros profissionais de níveis hierárquicos mais baixos que geralmente nasceram na Zona Sul ou na Barra da Tijuca e adjascências (não necessáriamente) irá se basear em informações de como funciona a mente dos consumidores que atualmente estão liderando o consumo do mercado nacional (a classe C)? Estão longe fisica e intencionalmente disso. E inevitavelmente o domínio do consumo dessa classe só tende a aumentar. Vejam bem, de maneira nenhuma estou afirmando que isso é uma regra, pois os fatores destacados acima mostram, a meu ver, alguns dos fatores essenciais para um básico entendimento de uma grupo de consumidores. Caso ignorados, há uma grande possibilidade de decadência do negócio.

E Não porque inteligência, bom senso, postura, competência, motivação, preocupação com o outro (cliente), sensibilidade, capacidade técnica, análise de tendências, PESQUISA, enfim, visão de mercado, independem da classe social e são fatores que estão muito mais ligados a escolha do indivíduo (profissional) do que as determinações etnográficas e socio-econômicas em que cada um (profissional) está inserido.